O que a história social do conhecimento reserva para o futuro?


Sabe-se que foi Gutenberg quem deu início a uma economia baseada no conhecimento, pois foi quem inventou a prensa móvel no século XV. Mas, será que já paramos para pensar como era compartilhado o conhecimento naquela época?

Há alguns dias iniciei a leitura do livro "Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot" e, mergulhei na leitura, literalmente. O livro aponta a história do conhecimento e fala um pouco sobre o ofício do saber, ou seja, sobre os letrados. Também explica o surgimento e evolução das instituições do conhecimento, como universidade, academias, associações, como a Royal Socity em Londres. Aborda ainda a classificação do conhecimento, seu controle, comercialização e aquisição. Mas, o capítulo que mais me chamou a atenção foi "O lugar do conhecimento: centros e periferias", a partir do qual farei as observações deste post.

No século XVII, por exemplo, o encontro pessoal entre estudiosos de um mesmo tema era essencial para trocar ideias. Algumas vezes, textos de interesse comum para letrados que se interessavam por uma mesma área eram traduzidos para o idioma comum, o latim, para que o saber pudesse ser compartilhado. Mas, onde essas pessoas se encontravam?

As grandes cidades da Europa eram pólos da economia, política e também eram o "lugar do conhecimento". Nelas, os estudiosos se encontravam quando buscavam casas impressoras ou até mesmo quando iam realizar pesquisas. Esses encontros, muitas vezes casuais, eram ideais para a conversa e compartilhamento de saberes. 

Percebe-se aí a grande importância das cidades naquela época como pólos para troca de informações e conhecimento. "O que as pessoas sabiam estava relacionado ao lugar onde viviam" (p.56). Destaca-se aqui que o modelo de centro-periferia se destacava, ou seja, a informação chegava das grandes cidades (Roma, Paris, Londres) para a periferia e nem sempre chegava em tempo hábil.

Entre os séculos XV e XIII muitas instituições tiveram grande representatividade para a difusão do conhecimento, desde as mais tradicionais como bibliotecas, universidades, galerias de arte, livrarias, anfiteatros, escritórios e até mesmo cafés, até as que talvez nem imaginássemos como: hospitais, barbearia e os portos. É destacado que "as formas de sociabilidade tinham - e ainda têm - influência sobre a distribuição e até mesmo sobre a produção de conhecimento" (p.57).

Interessante saber que em meados do século XVII eram convocados os "agentes de informação" que eram profissionais que mandavam informações para Londres sobre terras estrangeiras e esses agentes deviam residir nos lugares melhores e mais centrais. Esse foi um momento de difusão de informações, ate mesmo informações científicas da Europa para outros países. Por isso, percebe-se a importância dos portos nesse processo dentro da história do conhecimento, pois, por serem local de chegada e partida era para onde as pessoas se dirigiam para conversar com marinheiros e trocar diferentes tipos de conhecimento.

Que tal fazer um contra ponto, podemos nós imaginar tamanho esforço que era feito para obter informações sobre uma cidade vizinha,  um país situado do outro lado do globo ou ainda sobre um novo método ou conhecimento criado? Hoje não só podemos encontrar qualquer tipo de informação com apenas um clique quanto podemos fazer a informação que nos interessa nos encontrar. Qualquer dispositivo com acesso a internet permite ações que antes não podíamos imaginar.

Conhecer essa evolução me parece essencial para auxiliar na construção do futuro, mas, o que o futuro reserva para a história social do conhecimento?!?!?

BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.




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