Qual o meu papel como pesquisadora para minimizar os preconceitos na academia e na ciência?

Estou assistindo como ouvinte à disciplina Faculty Seminar na iSchool da University of Washington como parte de minhas atividades como bolsista CAPES/Fulbright. Semanalmente temos um ou dois textos para ler e, durante a aula, um aluno apresenta, outro critica e a turma é responsável por participar do debate.

Desde a primeira aula passamos pelas mais distinta temáticas e. as questões de gênero, raça, ética e o papel da ciência sempre vem a tona nas discussões. O principal questionamento gira em torno do nosso papel como cientistas e pesquisadores para reconhecer e preservar a diversidade de pensamento, opinião, cultura, etc. Como não deixar a margem aqueles que sempre foram excluídos pela sociedade? Qual o nosso papel frente a tudo isso?

Pela primeira vez eu me questionei quanto a isso nas aulas do doutorado no ano passado, especificamente durante as disciplinas "Bases epistemológicas para a organização do conhecimento" com o Prof. José Augusto Chaves Guimarães e "Teoria Crítica aplicada a Organização do Conhecimento" com o Prof. Daniel Martínez-Ávila. Foi com esses professores que abri meus olhos para as questões éticas em organização do conhecimento e também na ciência. 

Não fazemos ideia, ou simplesmente fechamos os olhos em nossa prática diária para os sistemas de organização do conhecimento que utilizamos e toda a carga de preconceitos neles contidas.

Alguém já parou para analisar as diferentes edições da Classificação Decimal de Dewey e reconhecer como ela é carregada de "bias" e tem o poder de marginalizar inúmeros grupos importantes para a sociedade? Sim, Melodie Fox e Hope Olson fizeram isso muito bem. No Brasil, Suellen Oliveira Milani também estudou as questões éticas na organização do conhecimento.

Na aula de hoje, uma colega destacou que nosso papel como pesquisadores é ter autoconsciência ao escrevermos nossos textos. Precisamos refletir sobre o conhecimento que estamos transmitindo. Concordo com essa afirmação e, isso não quer dizer que alcançaremos objetividade na ciência, mas, podemos evitar os preconceitos em nossas comunicações. Acredito que também devemos questionar e, dessa forma, essa autoconsciência aguçará o espírito questionador para reconhecer quais autores estão presos a esses preconceitos. Mais do que isso, precisamos buscar voltar nosso olhar para o contexto de onde se fala e compreender o ponto de vista de outros pesquisadores a partir de onde eles falam, do seu espaço, sua vivência.

O nosso trabalho em bibliotecas também é carregado de subjetividades, na catalogação, classificação e indexação, por exemplo. O livro "The Power to name" da Hope Olson evidencia muito bem isso. Também precisamos de autoconsciência nessa atividade tão rica e cheia de poder como a autora descreve.

De certa forma essas discussões tem auxiliado para a formação do meu senso crítico e reflexão sobre suposições da minha pesquisa sobre epistemologia da organização do conhecimento. Todo autor carrega consigo influências epistemológicas que influenciam seu pensamento, sua forma de escrita, suas afirmações, etc. Mais do que isso, tenho despertado para estudar um pouco mais essas questões que estão tão presentes em nosso dia a dia e, como profissional, posso tentar mudar ao menos um pouco essa realidade.


Comentários